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Primeiro avião português vai ser construído em Ponte de Sor | Será o todo-terreno dos ares

Um projeto de construção de um avião em território português está a nascer no concelho de Ponte de Sor, o nome para o aparelho será o ATL-100 e tem a promessa de fazer o seu primeiro voo comercial em 2023. A empresa responsável pela construção desta aeronave indica que entre 600 a 800 pessoas possam ter emprego só neste concelho, estimando-se um total de 1200 postos de trabalho.

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Eduardo Bonini, futuro presidente do conselho de administração da empresa que ainda não tem nome, que vai construir a primeira aeronave totalmente em território português, informou que a linha de produção e montagem da aeronave ATL-100 vai ser no Aeródromo de Ponte de Sôr, mudando por completo a face deste concelho do Alto Alentejo, havendo já sinais desta mudança com uma procura maior de casas nesta zona do país.

O mesmo compara este projeto ao da Embraer, no Brasil, que teve o seu epilogo no ano de 1970 em São José de Campos, numa cidade que na altura tinha 150 mil habitantes e que nos dias de hoje conta já com 720 mil pessoas.

O primeiro protótipo do ATL-100 deverá estar pronto para levantar voo em 2023, num programa aeronáutico completo de Portugal - que envolve o CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento) e a empresa brasileira DESAER - avançam já que o projeto vai criar cerca de 1200 postos de trabalho contemplando os três distritos alentejanos.

Ponte de Sor vai receber a maioria - entre 600 a 800 pessoas - enquanto algumas centenas de empregos serão distribuídos entre Beja e Évora na construção de vários equipamentos. Por agora estão ser dados os primeiros passos no centro de engenharia que o programa já está a desenvolver no Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, em Évora.

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"Vamos ser uma empresa integradora de segmentos produzidos por parceiros locais, juntando as partes e integrando-as no mesmo avião para depois ser vendido", esclarece Bonini, ressalvando que este programa "não poderá ser feito de um dia para o outro".

O investimento vai ser financiado por fundos comunitários, através do programa operacional regional Alentejo 2020, embora o grosso da fatia financeira deva ser assegurada pela DESAER e CEiiA, contando ainda com uma segunda linha de apoio que pretende atrair investidores internacionais.

E que mercados se perfilam como prioritários neste negócio? Eduardo Bonini fala de uma aeronave de grande flexibilidade com um alcance de 1600 quilómetros. "Permite carga até 2,5 toneladas e transforma-se num avião regional, com capacidade para 19 passageiros. O avião transforma-se em duas ou três horas. Foi algo que foi deixado para trás nos últimos anos, mas que tem procura", reforça, acrescentando que há vários mercados potenciais para colocar o avião português.

Dá o exemplo da própria Força Aérea brasileira que em breve vai precisar de substituir as aeronaves que em tempos comprou à Embraer. Com efeito as "bandeirantes" - como são designadas - estão descontinuadas e à beira de atingirem o tempo útil de vida. "Estamos a falar de uns cem aviões que terão de ser substituídos", avança ainda Bonini, alertando para a capacidade que as aeronaves conferem em países africanos ou no Médio Oriente. "Vão permitir realizar operações muito grandes. Vejamos o que acontece nos dias de hoje com a pandemia, em que é preciso fazer chegar vacinas e ventiladores a locais extremos", exemplifica o responsável, para quem o ATL-100 junta a capacidade de carga a possibilidade de poder operar mesmo em pistas não pavimentadas.

Já o presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, Hugo Hilário, defende que a garantia da instalação da linha de produção no concelho "premeia" o trabalho que ao longo dos anos tem sido desenvolvido no aeródromo. Justifica que a infraestrutura aeronáutica do Norte Alentejo apresenta-se hoje como "diferenciadora e preparada para receber um programa de tão elevada escala". O autarca assegura que o aeródromo municipal tem tudo à espera do ATL-100. Do sistema de segurança, ao sistema operativo, passando pela estratégia que está definida.

Ainda assim, nos últimos três anos este concelho já conheceu sinais de crescimento, sobretudo a partir do momento em que o projeto aeronáutico ganhou asas mais sólidas. "Em três anos houve o dobro das licenças de construção de habitação e de reabilitação de imóveis comparando com os 15 anos anteriores", exemplifica o presidente do município, atestando como também se registou um crescimento ao nível do comércio, restauração e alojamento local.

Resultado: Ponte de Sor foi dos concelhos do Interior que mais reduziram a taxa e desemprego, baixando de 25% para apenas 5%. "A evolução aeronáutica abre-nos horizontes de crescimento para o futuro", resume Hugo Hilário.


Texto: PJCruz - MD/ANF
Fonte: DN

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